Imagem: Arquivo Pessoal
Reportagem: Hely Beltrão
Nos últimos anos, a região Nordeste vem se destacando no cenário nacional, sendo na área educacional, com as melhores notas no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e Olimpíadas de Matemática, bem como na economia, onde muitas empresas tem escolhido nossa região para se instalar. O professor e especialista em relações internacionais, Matheus de Oliveira Souza, comentou em entrevista a Alpha Comunicação, a respeito do primeiro capítulo do livro, Relações Internacionais, Geopolítica e Defesa, onde detalha a importância da região Nordeste para o desenvolvimento do Brasil.
"Um dos fatores básicos, diz respeito às potencialidades naturais da região, na pesquisa pude verificar por exemplo, que autores como Manoel Correia de Andrade, desde a década de 1960, tinham levantado uma série de exemplos de investimentos importantes, não só para a região, mas para o desenvolvimento brasileiro, investimentos em infraestrutura, energia, pólos industriais, como os existentes na Bahia, muito em função das potencialidades naturais da região. Para se ter uma ideia, mais recentemente, os avanços em termos da matriz energética, como a energia eólica e solar, fora outras questões da própria geografia física da região. Um outro elemento, me parece ser a retomada por parte de governos dos último períodos, em diferentes estados do Nordeste, de um interesse em reiniciar investimentos estratégicos de desenvolvimento regional, a nível da região Nordeste, é um exemplo positivo, o próprio Consórcio Nordeste, também poderíamos citar, exemplos de iniciativas governamentais, ao longo de cada estado, estes são fatores que favorecem a atração de investimentos de empresas nacionais e internacionais, a dinamização da economia nordestina, pois não adianta termos a potencialidade da geografia física e capacidade do povo nordestino, se não tivermos planejamento estratégico voltado para o desenvolvimento intra regional sem largar a mão da perspectiva nacional".
Últimos resultados do Nordeste no campo educacional
"Um fator relevante e central é a percepção por parte da nossa população de que o caminho para superar as dificuldades econômicas e sociais é a educação, essa é uma percepção que tem crescido muito até mesmo no ambiente familiar, principalmente nas famílias de baixa renda, iniciativas de escopo regional, como as do primeiro e segundo governo Lula (PT), incentivo a permanência na escola, a diminuição da evasão escolar, apesar da última pesquisa mostrar que isso ainda é um desafio, a manutenção dos estudantes para concluir o Ensino Médio, isso em todo o Brasil, não apenas no Nordeste, os programas de escopo nacional geraram um impacto positivo naquele momento e que permanece nas famílias de baixa renda que no século passado não conseguiam acessar o ensino superior, passaram a ter o acesso e esse valor da educação permaneceu. Como professor do ensino superior privado e público na Bahia, fui percebendo nas minhas classes, esse crescimento da perspectiva de que a educação é um caminho não só para conseguir uma melhor posição no mercado de trabalho, mas para que as pessoas se qualifiquem como cidadãs".
Para o professor, existe sim uma dose de despeito e inveja por aqueles que não aceitam o bom desempenho do Nordeste.
"Esses fatores mais recentes a respeito dos indicadores positivos, podem ser uma espécie de gatilho para dar vazão a uma mentalidade que já é anterior a percepção preconceituosa que algumas regiões do Brasil tem sobre o Nordeste, essa xenofobia é algo que já existe há muito tempo, um dos autores utilizados no meu trabalho já apontava na década de 1920 esse preconceito e que este fosse combatido, essa visão que busca diminuir a região Nordeste está enraizado em alguns elementos inclusive históricos, como a questão do racismo estrutural que é uma realidade na sociedade brasileira. A região Nordeste é mal vista por pessoas de outros estados por conta do racismo que habita no coração das pessoas, que se traduz nesta xenofobia contra o nordestino, mesmo que este não seja afrodescendente, por conta da noção de nossa cultura atrelada a herança africana e a nossa realidade do sertão, transformada numa xenofobia com sua raiz no racismo. Com esses resultados positivos do último Enem ou quando o Nordeste mostra o seu peso político para decidir uma eleição nacional, como em 2022, esses acontecimentos propiciam oportunidades para que se destile e externalize esse preconceito, e me parece sim, que esse preconceito e racismo histórico nessas ocasiões, tenha uma dose de inveja e despeito de não aceitar que aquele sujeito, que na minha percepção, possua uma identidade menos importante do que a minha, que sou de uma outra região ou de outra família, não aceito que aquele sujeito esteja sendo superior a mim em áreas específicas, como a educação, política, ou seja, funciona como um gatilho para destilar esse ódio ancestral contra pessoas de outra região", concluiu.